sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

México: Mil anos de história

Ano 1000. O povo asteca dá os seus primeiros passos pelo território do atual México. Para chegar ao auge do seu esplendor, o império asteca levou 4 séculos. Dois anos apenas foram suficientes para que desaparecesse. Os astecas e os povos submetidos ao seu domínio não resistiram à invasão espanhola. A organização, a disciplina e a indiscutível crueldade do exército liderado por Fernão Cortez levaram-nos à destruição. Os invasores brancos dispunham de cavalos, couraças e armas de aço. Os astecas desconheciam a raça branca, temiam o cavalo e ignoravam armas metálicas: em pouco, os espanhois extinguiram a civilização asteca, uma das mais ricas da história da humanidade.

O desembarque de Cortez na costa mexicana deu-se em 1519. Em 1521, os espanhóis entraram na atual Cidade do México e executaram o último imperador asteca — Cuauhtémoc. Por vingança aos astecas que os dominavam, e na esperança de sobreviverem, os tlaxcalas e alguns outros povos passaram a colaborar com os invasores vitoriosos. Somente o povo dos méxicos combateu-os ainda por algum tempo, numa desesperada resistência. Embora exterminado, foi perpetuado no nome do país.

A escravidão por "encomienda"

A façanha de Cortez, eliminando uma nação inteira em prazo tão curto, resultou em sua nomeação para os cargos de Governador, Capitão Geral e Juiz Mor da terra conquistada, que recebeu o nome de Nova Espanha, para simbolizar a prolongação da metrópole no além-mar. Dispondo, então, do poder ilimitado, Cortez fez várias doações de terras aos seus companheiros de expedição — as chamadas "encomiendas" — que lhes davam direitos também sobre os indígenas remanescentes dos massacres. Era, em suma, a instituição da escravidão dos povos vencidos. Em troca, os donatários comprometiam-se a converter, educar e proteger os índios. Na verdade, não conseguiram convertê-los, nunca pretenderam educá-los e jamais os protegeram.

Catedral de Tepotzolán.
Catedral de Tepotzolán. Diversas igrejas no mesmo estilo foram construídas no México pelos espanhóis.

Nos primeiros anos, a Espanha governou a colônia através de um tribunal de 5 membros: a "Audiência Real". Em 1535, a Nova Espanha foi transformada em vice-reinado, o qual durou até 1821. Neste período governaram sucessivamente 63 vice-reis. Nomeados pessoalmente pelos reis da Espanha, a quem deviam obediência direta, eles exerciam autoridade absoluta e total.

Na fase final do regime de vice-reinado, por volta de 1800, havia na Nova Espanha 900.000 "criollos" (filhos de espanhóis nascidos no México). A população indígena atingia então 3 milhões. O número dos negros (importados como escravos a partir do século XVI) andava pela casa dos 2 milhões. Toda essa gente — perto de 6 milhões — vivia submetida a 15.000 "guachupines" (como eram chamados os espanhóis "autênticos"), que dispunham de todo o poder político e administrativo.

Um ano após a tomada do México por Cortez, os franciscanos chegaram à colônia para catequizar os índios. Com o tempo, a Igreja monopolizou o ensino e a educação. Em 1535, instalou a primeira impressora das Américas e fundou, em 1553, a Universidade do México. Quando o vice-reinado se tornou independente, em 1821, só 30 mil dos seus 6 milhões de habitantes sabiam ler e escrever.

Os bandeirantes do México

Explorar o trabalho escravo de índios e negros revelou-se um grande negócio para os "guachupines", que prosperaram a olhos vistos. Seu poderio econômico, somado à força militar de que dispunham, levou-os a se lançarem à expansão das fronteiras da colônia. Expedições de "adelantados" (que eram uma espécie de bandeirantes) subiram pela costa do Pacífico até onde é hoje o estado do Oregon, nos Estados Unidos. Por outro lado, explorando a costa atlântica, os "adelantados" incorporaram à colônia os territórios de Luisiana e Flórida. Anexaram ainda a área correspondente aos atuais estados americanos da Califórnia, Nevada, Arizona, Colorado, Texas e Novo México.

De repente, em 1807

Durante muito tempo, o domínio dos "guachupines" foi aceito sem discussão e a situação política e econômica da Nova Espanha permaneceu inalterada. Mas o slogan "Liberdade, Igualdade e Fraternidade", lançado pela Revolução Francesa, começou a correr o mundo. Um sopro de renovação surgiu por toda parte.

Quando, em 1807, Napoleão invadiu a Espanha, depôs o rei e passou a coroa ao seu irmão José, as coisas mudaram também na Nova Espanha. Os "guachupines", que já exerciam o poder, acharam que era hora de ampliá-lo e desejaram liberdade da Metrópole. Os "criollos", que não participavam da política, trataram de reinvindicar igualdade. E o clero usou da fraternidade para melhorar a situação dos índios e mestiços.

Os padres e as revoltas

Em 1810, o padre Miguel Hidalgo reuniu indígenas e mestiços num movimento revoltoso que mobilizou 80.000 homens. Mas os "guachupines" agiram a tempo: Hidalgo foi executado.

Outro sacerdote — José Maria Morelos — liderou uma nova revolta e reuniu um congresso que declarou a independência do México a 6 de novembro de 1813. Os "guachupines" reagiram: Morelos foi executado.

A revolução prosseguiu, mas ganhou novo espírito. Cientes de que já dispunham de uma força respeitável, os índios e mestiços decidiram fazê-la por conta própria. Vários líderes se sucederam e, para derrotar um deles — Vicente Guerrero — o vice-rei enviou Augustín de Itúrbide, um oficial "criollo". Dessa forma, "guachupines" e "criollos" se aliavam contra a revolta dos mestiços e índios. Mas Itúrbide entrou em acordo com os revoltosos e implantou uma monarquia independente, proclamando-se imperador. Seu império, entretanto, durou pouco. Os "guachupines", inconformados com a perda do poder, mobilizaram-se contra Itúrbide, que acabou sendo executado.

1821: obtida a independência do México, o general Itúrbide entra triunfante na capital.
1821: obtida a independência do México, o general Itúrbide entra triunfante na capital.

Instalado o regime presidencialista que ali constituiu uma fórmula imaginada pelos "guachupines" para exercerem o poder através de terceiros — Guadalupe Victoria foi eleito primeiro presidente mexicano. Vicente Guerrero foi o segundo. Menos maleável que Victoria, entrou em guerra aberta contra os "guachupines", lutando contra a Espanha que tentava recuperar a colônia perdida. Deposto por seu vice-presidente, Guerrero foi executado.

O preço da guerra

Os "criollos" constituíam uma classe média dedicada ao comércio e à indústria. Assim, não viam com bons olhos a escravidão: os escravos consomem pouco e não compram nada.

Quando os "criollos" conseguiram abolir a escravidão, em 1835, os fazendeiros escravagistas texanos revoltaram-se contra o governo e pediram a anexação do Texas aos Estados Unidos. O congresso americano hesitou em incorporar mais um estado escravagista à União, que já tinha pela frente o problema das dissensões entre sulinos e nortistas, das quais resultaria a Guerra da Secessão, 25 anos depois. Então, o Texas lutou contra o exército mexicano e, vitorioso, proclamou em 1836 a sua independência. A tensão que se criou entre o México e os Estados Unidos resultou em guerra. Derrotado, o México perdeu 1.338.000 km2 do seu território.

Os breves dias do Império

O fracasso militar e a instabilidade política que se seguiu motivaram repetidas revoltas. O patriota Benito Juarez chefiou uma delas. Sua vitória resultou na abolição dos privilégios militares e políticos, estabelecimento do casamento civil, supressão das ordens religiosas e nacionalização das suas propriedades. Quando Juarez, porém, suspendeu  pagamento da dívida externa do México, seus principais credores — Inglaterra, Espanha e França — trataram de intervir. Além das razões econômicas, tinham interesse em obter uma área de influência junto à fronteira norte-americana.

Após sucessivas batalhas, o exército francês de Napoleão III derrotou Juarez. Uma junta de monarquistas mexicanos — remanescentes dos antigos "guachupines" — restabeleceu o império e coroou Maximiliano de Habsburgo, enviado por Napoleão III. No entanto, quando as tropas francesas se afastaram do México, Juarez promoveu um levante que derrubou o Imperador, em 1867. Maximiliano foi executado.

Os longos anos de Diaz

Governos instáveis e muita intranquilidade facilitaram a Porfírio Diaz o estabelecimento de uma ditadura, em 1876. Num governo longo como o seu — que durou 34 anos — alguma coisa de proveitoso teria forçosamente que ser feita, e foi o que aconteceu. O México surgiu como nação no panorama internacional. Mas Diaz expropriou as terras comunais, as massas rurais foram reduzidas à miséria e os grandes latifundiários se tornaram ainda maiores. Os protestos populares sofreram uma repressão violenta e cruel. E a insatisfação cresceu até explodir numa rebelião chefiada por Francisco Madero, em 1910. Reivindicando uma distribuição mais justa das terras, o movimento teve o apoio de dois revolucionários que se tornaram famosos: Pancho Villa e Emiliano Zapata.

As crises do progresso

A revolução de Madero saiu vitoriosa, mas seu líder durou pouco. Um golpe do general Victoriano Huerta o derrubou, e Madero foi fuzilado.

Seu sucessor foi o próprio general Huerta. Por pouco tempo, porém. Ao cair seu governo, também Huerta foi executado.

Francisco Doroteo Arango, guerrilheiro mundialmente conhecido pelo nome de Pancho Villa.
Francisco Doroteo Arango, guerrilheiro mundialmente conhecido pelo nome de Pancho Villa.

Venustiano Carranza, que assumiu o poder apoiado por Villa e Zapata, prometera diversas reformas — sobretudo no tocante À distribuição de terras. Uma vez no governo, entretanto, pouco realizou de concreto, além de promulgar a Constituição, em 1917, e o Código Trabalhista, muito avançado para a época. Enfraquecido por crises, seu governo se esfacelou em 1920, e Carranza foi executado.

Coube a Obregon, que o sucedeu, realizar algumas das reformas prometidas por Carranza. Obregon adotou novos critérios para distribuição das terras e disciplinou a exploração de petróleo, o que provocou tensão com os Estados Unidos. Em seu governo, a população rural e indígena passou a merecer atenção. Mas a oposição que se formou era forte e Obregon foi executado.

Enfim, paz

Em 1929, após tanto tumulto e intranquilidade, formou-se um governo influenciado por Calles, que iniciou a reforma agrária e a aplicação das leis trabalhistas, em cumprimento às disposições da Constituição de 1917. Em 1934, Lázaro Cárdenas subiu ao poder e publicou um plano de 6 anos, quee cumpriu e superou. Cárdenas expropriou e distribuiu as terras, nacionalizou as estradas de ferro, ampliou as bases do trabalhismo e reorganizou a estrutura econômica do país.

A partir do governo Cárdenas, pacificado o país, iniciou-se a fase de progresso do México.

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