Um velho de cabeleira branca e rebelde, com um bigodão felpudo a tomar-lhe boa parte do rosto; um velho de camisa esporte aberta no pescoço, por baixo do pulôver grosso e folgado — eis a recordação que o mundo guarda de um homem que, em seus 76 anos de vida, revolucionou a física e a matemática e tomou lugar junto a Galileu e Newton no rol dos maiores gênios que a humanidade já conheceu. Mas bem pouco havia dessa imagem no jovem de 26 anos que, certo dia em 1905, entrou no edifício dos correios de Berna, Suíça, e despachou um pesado envelope endereçado à "Revista Anais da Física", Leipzig, Alemanha. Dentro do envelope havia trinta folhas escritas de alto a baixo. Terminavam com uma assinatura simples: Albert Einstein. Seis anos mais tarde, essas trinta folhas que revelaram ao mundo uma visão inteiramente nova do Universo, ganhariam para o seu autor o título máximo que um físico pode ambicionar: o Prêmio Nobel.
Era mau aluno. O prédio era velho, o professor era velho e velhos eram os métodos daquela escola da cidade de Ulm, na Alemanha Meridional, onde vivia a família Einstein. Era preciso decorar, aceitar as verdades impostas, conhecer regras, nomes e datas — jamais analisar, desconfiar, duvidar, discutir. Jamais desvendar o porquê das coisas. Anos depois, o grande cientista Einstein, lembrando os tempos do mau aluno Albert, dizia: "Educação é aquilo que fica, quando se esquece o que ensinou a escola".
Depois do ensino secundário em Ulm — concluído mais pela obediência aos pais do que pelo amor ao sistema educacional — chegou a vez da Politécnica em Zurique, na Suíça. Ali Einstein recebeu o diploma. Mas foi a leitura das obras básicas de física e matemática, e a análise da ciência que o conduziram a ser o que foi: o maior cientista do século XX.
Em 1909, com 30 anos, Einstein é professor da Universidade de Zurique. No ano seguinte, da Universidade de Praga (que então fazia parte do Império Austro-Húngaro). Em 1912, ocupa a cadeira da Escola Politécnica Federal da Suíça, que cursara havia pouco. Em 1913, é professor da Universidade de Berlin, diretor do Instituto Imperador Guilherme e membro da Academia de Ciências da Prússia. Foi naqueles anos que ele descobriu o prazer de ensinar. Diria muito mais tarde: "A arte suprema do mestre consiste em despertar alegria, provocando curiosidade pelo conhecimento criativo". E afirmava: "A única finalidade da educação deve consistir em preparar indivíduos que pensem e ajam como indivíduos — independentes e livres".
Ensinando aos outros e criando uma nova geração de cientistas, Einstein se aprofundava no desvendar dos segredos do Universo. A criação da teoria especial — e depois geral — da relatividade; o estabelecimento da equivalência entre energia e massa; a criação da teoria do movimento browniano e a definição da teoria fotônica da luz — eis os quatro caminhos que conduziriam à reviravolta de todos os conceitos científicos de então, por mais enraizados que fossem. "O mais incompreensível no Universo", diria anos após, "é que ele é compreensível".
Apesar de tudo, não conseguia aceitar de maneira rígida nem sequer as suas próprias teorias. "Nenhuma soma de experiência", dizia, "pode provar que se tem razão. Mas basta uma só experiência, para mostrar que se está errado". Completaria algum tempo após: "Se minha teoria da relatividade revelar-se correta, a Alemanha afirmará que sou alemão, enquanto a França declarará que sou cidadão do mundo. Mas se minha teoria fracassar, a França lembrará que sou alemão, e a Alemanha recordará que sou judeu".
A sua evolução no campo da ciência pura não lhe diminuiu a convicção na criatura humana. Ao contrário, tornou-a mais profunda. "O grande problema da humanidade não está no domínio da ciência, mas no domínio dos corações e mentes humanas", era sua opinião. E esta fé no homem, aliada ao seu crescente conhecimento do Universo, pouco a pouco aproximaram-no de Deus. Na fase final de sua vida, reconheceu o fato com convicção e cientificamente. Não admitia Deus no sentido aceito tradicionalmente, rejeitando o ponto de vista puramente doutrinário. Via n'Ele a Razão e a Causa.
Muitos veem nisso uma incoerência. Nem por isso, entretanto, é menos lógica a posição do cientista. Porque a aparente contradição — perfeitamente concatenada dentro de um rigoroso sistema de pensamento — foi uma das características mais marcadas do processo de evolução de Einstein como homem de ciência.
As verdades dão mutáveis
Embora cientista — ou melhor, por ser cientista — reprovava abertamente a enunciação de verdades imutáveis. Certa vez, na Academia de Ciências da Prússia, então reduto do tradicionalismo científico e da disciplina ferrenha, não hesitou em declarar: "Ao se referirem à realidade, os princípios da matéria não podem ser inflexíveis. Pois se forem inflexíveis, não podem referir-se à realidade". Em sua opinião, a vida é "um ininterrupto vir a ser; jamais um ser puro e causal". Mas essa concepção da vida como um processo de evolução não lhe impedia de expressar as opiniões que prezavam e ressaltavam o valor da tradição. Certa vez dirigiu-se assim a um grupo de crianças: "As coisas admiráveis que vocês aprendem a conhecer em suas escolas — o trabalho de várias gerações realizado em todos os países da Terra — custou grandes sacrifícios e esforços apaixonados. Tudo isso é posto em suas mãos para que vocês recolham, venerem e desenvolvam, e um dia transmitam fielmente a seus filhos. Desta forma, nós, mortais, nos imortalizamos naquilo que criamos em comum, na realização de obras imperecíveis. Se vocês pensarem nisto, adquirirão uma opinião justa sobre outros povos e outros tempos".
Einstein e Freud versus guerra
Era um humanitário autêntico. Via no nacionalismo "o sarampo da humanidade". Isso não o impedia, entretanto, de apoiar as aspirações nacionalistas judaicas de criação de um Estado judeu na Palestina. E, em 1921, não hesitou em aceitar um convite da Organização Sionista dos Estados Unidos para propagar essas ideias, chegando mesmo a escrever um livro sobre o assunto. Trinta anos mais tarde, recusou um convite para ser presidente de Israel: não queria dedicar-se a um país — seu interesse era a humanidade.
Einstein acolhido e aclamado pelas ruas de Nova Iorque, quando ali chegou pela primeira vez, em 1921. |
Era otimista por natureza. Contudo, não tinha dúvidas em dizer, com base na Teoria da Relatividade, que — enquanto "antigamente acreditava-se que, se todas as coisas materiais desaparecessem do Universo, restariam tempo e espaço, hoje se sabe que o tempo e o espaço desapareceriam com todas as coisas".
Era pacifista por convicção. Em defesa da paz, durante a década de 20, escreveu um livro "Guerra, por que?". Seu colaborador neste trabalho foi outro cientista, também genial, também revolucionário em suas concepções, cujas obras abriram para a psique do homem perspectivas tão novas quanto as desvendadas por Einstein para a compreensão das leis do Universo. Seu nome: Sigmund Freud.
Em 1932, Einstein partiu de Berlim para uma visita à Califórnia. Já sabia que brevemente o nazismo controlaria toda a Alemanha. Suas previsões se confirmaram em 1933, e ele renunciou então a seus cargos em Berlim, fixando-se nos Estados Unidos, no Instituto de Estudos Avançados de Princeton.
Naquele período um grupo de físicos alemães descobriu a fissão nuclear. Entre eles estava Lise Meitner que, refugiada do nazismo, informou a Enrico Fermi, refugiado da Itália fascista, sobre o processo de fissão e a consequente liberação de enormes quantidades de energia. Com dois dois outros físicos — refugiados da Hungria de Horthy — Leo Szilard e Eugen Wigner — Fermi pediu a Einstein que alertasse o presidente Roosevelt sobre o perigo de os nazistas chegarem por este caminho à fabricação da bomba atômica. Da carta enviada por Einstein ao presidente americano resultou o célebre "Projeto Manhattan" e, depois, a primeira bomba atômica. Mas então, a guerra já estava no fim e Einstein se opôs firmemente à utilização da nova arma.
Em 1946, apoiou os projetos de formação de um governo mundial e de troca de segredos entre as grandes potências atômicas: almejava a paz do mundo.
Einstein morreu a 18 de abril de 1955, em Princeton, de uma hemorragia não estancada a tempo.
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