"Chegamos ao Panamá. Do alto de uma colina, comtemplamos por longo tempo o local de onde dizem que provém todo o ouro do mundo. Avistamos, no porto, a frota espanhola do Pacífico, com embarcações carregadas de ouro do Peru.
O capitão apontou para a baía dizendo: 'Olhem! Ali os espanhóis carregam seus galeões. Algum dia ainda hei de passar por lá, com todas velas desfraldadas. Quem me acompanhará nessa jornada?' Sem hesitar, o lugar-tenente Oxenham respondeu: 'Capitão Drake, mesmo que me enxotásseis a golpe de açoite, eu vos seguiria!"
Assim escrevia em seu diário um dos dezoito marinheiros que se haviam embrenhado no istmo do Panamá, em 1573. Aí se encontravam para surpreender e pilhar as expedições espanholas que, carregadas de fabulosas riquezas, se dirigiam rumo à costa atlântica.
Embarcações piratas. |
Os dezoito marinheiros, sob o comando do capitão Drake, integravam a tripulação que desembarcara, de duas naves inglesas, numa ilha desabitada no mar das Antilhas. O capitão organizara a expedição com o consentimento da rainha Elizabeth I, da Inglaterra, que frequentemente se servia dos piratas para enfraquecer o poderio colonial espanhol. Elizabeth, que reinou de 1558 a 1603, concedia aos capitães uma "patente de corso", documento com o qual a coroa inglesa legalizava a pirataria, desde que a serviço de Sua Majestade.
Francis Drake, o mais famoso corsário da história. |
O nome desse documento originou a denominação de corsários, aplicada a todos marinheiros que participavam de tais empresas. A partir de meados do século XVI e durante todo o século XVII, inúmeros navios corsários, principalmente ingleses, mas depois também franceses e holandeses, sulcaram o mar das Antilhas para pilhar os galeões espanhóis ou saquear as cidades costeiras das colônias espanholas.
No início do reinado de Elizabeth, a "guerra de corso" era encorajada de todas as maneiras. A rainha protegeu e financiou, além de Drake, muitos outros piratas famosos como Thomas Cavendish, John e Richard Hawkins, Martin Frobisher, Walter Raleigh, George Clifford, nobilitando muitos deles. Também Luiz XIV, rei da França, distinguiu o corsário Jean Bart com um título nobiliárquico.
Piratas no Rio de Janeiro
Nos séculos XVII e XVIII, o Brasil também foi alvo de incursões de piratas e corsários, principalmente franceses. O Rio de Janeiro foi um dos pontos mais visados. Uma das ocorrências mais conhecidas deu-se em 1710. O francês Duclerc desembarcou com mil homens e tentou apossar-se da cidade. Rechaçado, foi aprisionado e morto logo depois. Sob o pretexto de vingá-lo, o comandante francês, René du Guay-Trouin, mais conhecido por Duguay-Trouin, aportou ao Rio com quase cinco mil homens. Derrotou a guarnição local, pondo em fuga o governador e a população. Para retirar-se exigiu um grande resgate, no que foi atendido. Um mês após, voltou à França.
Leis da Pirataria
A vida dos piratas, seus direitos e deveres com relação aos companheiros ou aos inimigos, eram regulados por normas preestabelecidas, chamadas "contratos de fretagem".
Estes homens, capazes de toda espécie de atrocidades, comportavam-se entre si como verdadeiros irmãos, fiéis e obedientes às leis que determinavam sua conduta. Desta união e disciplina férrea resultava uma força quase invencível.
A cada marinheiro cabia uma quota do produto do saque, aumentada em caso de ferimento. Cada ferida tinha o seu preço. Por exemplo, a perda de ambos os olhos ou das pernas valia um prêmio de 600 moedas; a perda do polegar ou indicador da mão direita, ou de um olho, 300 moedas; qualquer outro dedo valia 100 moedas.
Muitas vezes, uma associação particular ou um "cavaleiro" colocava navios e equipamentos à disposição dos piratas. A estes financiadores de corsários cabia a terça parte do saque.
A vez dos bucaneiros
Em meados do século XVII, o poderio marítimo espanhol enfraqueceu sensivelmente, o que bastou para que também diminuísse a pirataria "patrocinada". Surgiram em seu lugar as empresas particulares de pirataria, principalmente nas imediações das ilhas e costas do mar das Antilhas, onde sempre havia algum navio ou cidade costeira para atacar.
Mapa das Antilhas. |
Assim apareceram os "bucaneiros". Inicialmente, tal nome fora dado aos habitantes brancos do Haiti que, vindos dos mais variados países, haviam se estabelecido na ilha como colonos. Tinham o hábito de defumar a carne em um "buncan", isto é, um defumador constituído de estacas de madeira. Do termo "buncan" derivou o apelido "bucaneiro", que veio a ser outro sinônimo de "pirata".
Originalmente, esses colonos eram caçadores e pastores. Mais tarde, a ilha foi de tal forma saqueada e arrasada pelos espanhóis, que escassearam os animais de caça e as atividades agropastoris tornaram-se difíceis. Não encontrando nas matas outros recursos para viver, os bucaneiros passaram a procurá-los fora da ilha, principalmente no mar. Seguindo o exemplo de Drake e seus homens, tornaram-se piratas: ao invés de animais, passaram a caçar galeões. Os ingleses que se encontravam entre eles, eram chamados "freebooters", o que significa "saqueadores livres", por não mais dependerem da coroa inglesa. Daí derivou o termo francês "flibustier" e o português "flibusteiro". Durante algum tempo, os termos "bucaneiro", "corsário" e "flibusteiro" eram diferenciados; mais tarde passaram a designar, sem distinção, qualquer espécie de pirata.
O refúgio predileto dos bucaneiros foi, por longo tempo, uma ilha que só dispunha de um caminho de acesso e era cercada de costas íngremes. Seus descobridores compararam-na ao casco de uma enorme tartaruga e, assim, deram-lhe o nome de Tortuga (tartaruga em espanhol), que conserva até hoje. Tortuga pertence atualmente à Venezuela.
Desse refúgio e de muitos outros situados nas costas da Jamaica, e mesmo no alto mar — como ocorria, por exemplo, com a ilha brasileira de Trindade — saíram as expedições dos mais importantes e cruéis bucaneiros e corsários daquela época: Bartolomeu Português, "o invencível", que terminou seus dias vendendo cocos e nabos nas estradas de Tortuga; Francisco Nau, um francês cognominado "o Olonês", que teria sido devorado por canibais; Henry Morgan, chamado "o rei dos bucaneiros", autor de empreendimentos que causaram espanto e temor, e que chegou a vice-governador da Jamaica, por nomeação da rainha Elizabeth I; Anne Bonney e Mary Read, as mais famosas mulheres piratas. Estes piratas que gostavam de denominar-se "Irmãos da Costa", por mais de meio século semearam o terror pelas colônias espanholas da América Central, do México e das costas setentrionais da América do Sul.
A pirataria, porém, não nasceu no século XVI e não acabou no século XVIII. Ela é conhecida desde os tempos mais remotos, e de certa forma existe até hoje. Foram os gregos antigos que lhe deram o nome: "peirates", o que quer dizer "ladrões do mar". Realmente, a pirataria era sempre praticada por mercenários cujo objetivo era a pilhagem, o roubo, o saque. Mas este tipo de pirataria desapareceu mesmo dos mares do sudeste asiático, onde se manteve por mais tempo. Hoje é chamado de pirataria qualquer atentado às leis da paz ou da guerra, cometido nos mares. Por outro lado, em decorrência dos bombardeios aéreos das cidades indefesas, surgiu o termo "pirataria aérea". O conceito tradicional da pirataria já pertence ao passado.
Vestimentas
Muitos livros e filmes mostram as aventuras de piratas, representando-os com roupas magníficas, deslumbrantes túnicas vermelhas, grandes faixas em torno da cintura, calças enfiadas em enormes botas, chapéus emplumados, de abas largas. Isso porém, não corresponde à realidade, especialmente no caso dos piratas das Antilhas, que navegavam sob o sol ardente dos trópicos.
Vestimenta típica dos piratas. |
Suas roupas eram mais simples. Traziam na cabeça um chapéu esgarçado, sobre um turbante colorido. Como vestimenta, usavam uma camisa rústica e uma calça de couro ou de pano grosseiro. Em volta da cintura, colocavam uma correia ou faixa, onde eram enfiadas as pistolas e o insubstituível cutelo (faca de ferro, semicircular). Argolas nas orelhas, tatuagens nos braços e no peito completavam a figura.
Táticas de combate
Mesmo a grande distância, era difícil que qualquer navio passasse despercebido aos piratas. Durante as travessias, toda a tripulação mantinha-se constantemente atenta, pois o primeiro marinheiro a divisar a presa teria direito a um prêmio. Quando avistavam uma vela, todos tomavam suas armas e corriam para os postos de combate. Os que estavam armados de mosquete colocavam-se na proa, enquanto outros se estendiam sobre o passadiço do navio, para não serem vistos. O timoneiro, a toda velocidade, conduzia a embarcação no rastro da outra, a fim de que somente um alvo estreito se apresentasse aos eventuais disparos inimigos. Mas os atos de defesa eram raros. Rapidamente, os piratas aproximavam-se do navio atacado, prendendo-o por meio de ganchos de abordagem. A uma ordem do capitão, saltavam sobre o passadiço da presa e saqueavam tudo o que encontravam de valioso a bordo.
Um combate pirata. |
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